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Sou produtor cultural e roteirista com mais de 15 anos de experiência em criação, planejamento e execução de eventos corporativos, culturais e institucionais. Atuo com foco na excelência operacional, engajamento do público e alinhamento estratégico às marcas.
Iniciei minha carreira no mercado de cinema, onde atuei por 10 anos, adquirindo experiência em produção e logística de eventos, como sessões, festivais e ações promocionais para grandes empresas do setor audiovisual. Essa trajetória me trouxe um olhar atento para o relacionamento com o público e a entrega de experiências envolventes.
Consolidei habilidades em gestão de projetos, fornecedores e parceiros, sempre visando resultados que reforcem a imagem institucional. Em 2024 e 2025, atuei na produção de eventos para o mercado financeiro, com foco em diversidade, sustentabilidade e responsabilidade social, conectando o setor corporativo a temas como cultura, educação e reputação.
Acredito que produzir vai além da organização: é criar ambientes de troca e experiências memoráveis. Meu diferencial é unir criatividade, rigor na gestão e atenção aos detalhes para entregar eventos que superam expectativas e deixam impacto duradouro.
MINI-BIO
DO REFÚGIO LITERÁRIO À RESISTÊNCIA AUDIOVISUAL: UMA VIDA ENTRE REALIDADES E SONHOS
Criado na periferia de São Paulo, encontrei na linguagem literária uma fuga da realidade violenta e solitária que enfrentava como criança LGBTQIAPN+. Aos 12 anos, buscava refúgio na biblioteca da escola todos os dias durante o recreio.
Logo, essa admiração pela literatura se tornou uma necessidade de explorar outras linguagens e conhecer a diversidade multicultural que, naquele momento, parecia-me negada. Iniciei, então, uma jornada de conhecimento e autoconhecimento, pois não encontrava referências que me fizessem sentir pertencente àquele lugar. Afinal, um menino gay, branco e afeminado jamais se sentiria em casa vivendo na periferia. Hoje sei o quanto estava equivocado nessa última afirmação.
Nos anos seguintes, consegui acessar lugares cruciais para minha formação sociocultural: peças de teatro e exposições gratuitas, festas LGBT no centro de São Paulo, apresentações musicais. Aos poucos, conheci pessoas que, apesar das inúmeras diferenças sociais, tinham algo em comum comigo em várias outras camadas.
Foi só em 2009, após meus 20 anos, que me interessei por um filme nacional com temática gay. Tudo era novo, começando pelo cinema em que foi exibido, não localizado em um shopping e ainda levando o nome de um famoso banco. Naquela sala, com cerca de 30 lugares, fui tocado pela arte que me levaria a tantos outros lugares, reais ou imaginários. Ali, vi pela primeira vez um personagem gay retratado sem caricatura ou tom depreciativo de humor. Pela primeira vez, pude me ver como um possível protagonista da minha própria história.
Só aos 26 anos ingressei no mercado audiovisual, embora de forma indireta, trabalhando na produção de eventos de lançamento de filmes e não na produção dos filmes em si. Nesse momento, pela primeira vez, senti o sabor da conquista e da realização profissional. Passei a me apaixonar e a absorver tudo aquilo. Pela primeira vez, estava trabalhando com o que amava, não apenas pelo dinheiro necessário para sobreviver. Isso me tocava de uma maneira inédita.
Dentre todas as linguagens artísticas que havia conhecido até então, o audiovisual me despertou a possibilidade de expressar tudo o que havia aprendido e muito mais. Vi a oportunidade de expurgar todas as marcas de solidão e violência que havia vivido. Mais de uma década depois do dia em que estive naquela sala de cinema de rua, consegui realizar um grande sonho: estudar roteiro na AIC (Academia Internacional de Cinema). Juntar a escrita com o cinema é o que eu queria para mim; finalmente, senti que deveria contar todas aquelas histórias, reais ou fictícias, que sempre latejaram na minha cabeça.
A cada ambiente que acessava, notava de forma gritante a ausência de diversidade racial, social, sexual ou de gênero. Eram sempre brancos, cisgêneros, de classe média.
Marcado por essas questões sociais que me tornaram mais sensível às percepções de invisibilidade das minorias, comecei a perceber o quanto a periferia, apesar de ser peça fundamental para manter tudo aquilo funcionando, raramente ocupa um lugar de liderança ou recebe uma remuneração minimamente justa. Para nós são reservados cargos de montadores, carregadores, auxiliares, mas nunca de diretores, coordenadores, nem mesmo produtores. Esses cargos são reservados para aqueles que tiveram a oportunidade de estudar em grandes instituições (FAAP, Belas Artes...), viver no exterior ou até mesmo fazer um curso de inglês (vale ressaltar que apenas 1% da população brasileira é fluente em inglês). Isso tudo, mesmo que não tenha relação direta com competência ou habilidade de ser um verdadeiro solucionador no ambiente de trabalho. Muito pelo contrário, vir da periferia traz um diferencial na forma de lidar com situações do dia a dia como nenhum outro conseguiria; afinal, somos resistência desde sempre.
É importante abrir um parêntese aqui para mencionar minha passabilidade racial.. Muitos dos lugares que acessei e interagi foram possíveis pela capacidade de me camuflar e ser minimamente aceito. Ainda assim, o recorte social permanece uma grande barreira para ser visto em tantos outros lugares onde ainda não consegui me sentir pertencente, e este não pertencimento se perpetua até hoje, onde vejo a diferença na minha trajetória comparada à da maioria desses profissionais que conheci ao longo desses 15 anos de mercado e o quanto há o preterimento de profissionais periféricos.
Naquela produtora de eventos, dentre os seis produtores na equipe, eu era o único que vinha da periferia, que estudou em colégio público durante toda a vida e que precisou suar muito para conseguir fazer uma faculdade particular como bolsista (numa família imensa, com mais de vinte primos, fui o primeiro da minha geração a conseguir uma formação acadêmica). Lembro do dia em que, despretensiosamente, externei meus pensamentos sobre uma foto que tiramos com toda a equipe em um evento de pré-estreia. Naquela foto, tínhamos uma fileira de produtores e outra, à frente, dos montadores e ajudantes. Imagine qual fileira era unicamente de pessoas brancas da classe média e qual de pessoas negras e periféricas. Mesmo com toda a nitidez daquele retrato social, fui “tirado de louco”, acredito que pelo desconforto com aquela espécie de denúncia que acabara de fazer. No final, toda aquela situação me serviu para entender ainda mais como funciona o Pacto da Branquitude¹, que se mantém em manutenção diária. ¹(Termo expressado no livro homônimo escrito pela psicóloga, filósofa e ativista nas questões sociorraciais: Cida Bento.)
Por todos esses desconfortos gerados por minha percepção crítica e também pelo mercado em que estava inserido, percebi que aquela minha conquista não era nem de perto o que eu buscava. Eu precisava contar minha história, a história dos meus vizinhos que conheço desde a infância.
Nesse ponto, consegui alugar uma kitnet no edifício COPAN, onde por muito tempo sonhei morar desde meu primeiro emprego aos 16 anos. Lá, percebi que também não poderia ser considerado um deles. Porém, mais importante que isso, entendi que havia hackeado aqueles espaços, como um Cavalo de Troia que silenciosamente rouba os dados de uma placa-mãe.
Então, no meio dessa jornada, entendo que preciso de mais: eu preciso tentar dar voz ao máximo de histórias que continuam sendo silenciadas. Mas como? De forma quase involuntária, reconectei-me às minhas vivências na periferia e, a cada dia, mais senti a necessidade de falar sobre nós. Desde então, percebo o quanto estava errado quando afirmava que jamais conseguiria me sentir em casa na periferia. Aqui sempre foi meu lugar. Tudo o que sou hoje devo à Cidade Adhemar, pois mesmo vivendo todas aquelas experiências fora dela, minhas percepções teriam sido outras. Para quem vem da periferia, tudo é a periferia, mesmo estando longe dela. Essa visão é algo que jamais conseguirão tirar de mim.
Com o tempo, fui entendendo que ocupar espaços não bastava. Era preciso, de dentro, contribuir para que esses ambientes se tornassem mais abertos a diferentes trajetórias, como a minha. Foi nesse contexto que cheguei à B3, uma das maiores instituições do mercado financeiro do país. Aceitar o convite da B3 para atuar no mercado financeiro foi um gesto de ousadia e reinvenção. Vindo de uma trajetória construída no cinema e nas artes, mergulhar em um universo marcado por códigos e dinâmicas tão distintos exigiu coragem, escuta e adaptação. Encarei o desafio com curiosidade e entrega. Apostei que minha experiência com narrativas, públicos e cultura poderia enriquecer também esse outro campo, e fui descobrindo que há, sim, pontes possíveis entre esses mundos.
Atuar ali como produtor de eventos me levou a um novo nível de complexidade: técnica, política e social. Em uma organização que vem se empenhando para fortalecer a diversidade em suas ações e narrativas, encontrei oportunidades reais de inserção de pautas identitárias em iniciativas institucionais relevantes. Entre relatórios de sustentabilidade, fóruns temáticos e ativações com foco em inclusão, pude contribuir para ampliar o repertório simbólico da empresa. Produzi eventos com propósito e impacto, articulando imagem, pertencimento e escuta ativa. Usei a produção como ferramenta de conexão entre universos distintos, promovendo diálogos mais plurais e experiências mais significativas.
Assim como na jornada da heroína, que conquista seu novo espaço e depois percebe que sua estrada só terá fim quando voltar ao ponto de partida, reconectei-me aos meus primeiros espaços, quem sou e o que acabei deixando no meio do caminho.
Hoje, busco a possibilidade de escrever, de produzir eventos e experiencias, de falar sobre o que vivo, sobre o que vivi, busco a possibilidade de pertencimento sem precisar estar camuflado. Isso é o que me move, mesmo com toda a luta por reconhecimento.
Para além de mim, busco que a periferia viva, forte e bela. Que não sejamos apenas Cidade de Deus, Carandiru, Pixote ou Tropa de Elite; que sejamos também Bacurau, Que Horas Ela Volta?, Urubus, Marighella, Marte Um...
Victor Rangel

