Durante anos trabalhando com o audiovisual, especialmente com cinema, sempre me orgulhei de participar de grandes lançamentos, pré-estreias repletas de cenografia, iluminação, patrocinadores, talentos e toda a produção que envolve centenas de milhares de reais. Ver esses eventos tomando forma durante a pré-produção e a reação dos convidados me enche de orgulho e satisfação, pelo esforço envolvido para que tudo saia perfeito.
Mas há um lugar especial em meu coração, nutrido de forma única, que me dá energia para lutar pelo que acredito: o Cinema Nacional. O afeto que emana de mim ao participar de lançamentos de filmes feitos por nós, que contam nossa história, nossa potência, vitalidade e multiculturalismo, é imensurável.
No entanto, não é de hoje que sabemos das dificuldades extremas que nosso cinema enfrenta, desde a produção do filme em si até a luta por um lançamento digno de sua grandiosidade. Essa contrariedade se deve a vários fatores: a complexa distribuição das leis de incentivo às pequenas produtoras, a concorrência com filmes de produções milionárias estrangeiras, a dificuldade de apoio do setor privado e, o pior deles para mim, a movimentação sociopolítica conservadora que desvaloriza as leis de fomento à cultura brasileira, impedindo inclusive nosso avanço econômico.
Para exemplificar, vamos nos distanciar um pouco do cenário brasileiro para entender como a não valorização do cinema nacional afeta nosso crescimento sócio-econômico e cultural. Nos últimos anos, vimos a propagação massiva da cultura sul-coreana, seja na música, cinema ou doramas, conquistando pessoas de todas as idades no mundo todo. Esse movimento, chamado de Hallyu ou "Onda Coreana", teve como peça-chave o incentivo do governo sul-coreano à cultura, com um orçamento significativo. Comparativamente, o Brasil tem um orçamento muito menor para o setor cultural, o que impacta diretamente nossa capacidade de promover nossa cultura.
Além das empresas privadas como patrocinadoras, o incentivo cultural do Estado é fundamental para propagarmos nossa rica cultura. Quando o mundo valoriza e consome nossa cultura, alcançamos reconhecimento e nossa autoestima aumenta, mudando completamente a forma como consumimos nosso próprio material cultural. Um exemplo disso é o filme "Parasita", de Bong Joon-ho, que ganhou quatro estatuetas do Oscar em 2020 e diversos prêmios em festivais de cinema internacionais.
Voltando à nossa realidade, superar esses desafios requer uma combinação de apoio governamental, investimento privado, incentivos fiscais, políticas de distribuição mais eficazes e uma conscientização maior do público sobre a importância de apoiar a produção nacional.
Meu desejo mais profundo é que continuemos propagando nossa cultura nas telonas. Acredito que podemos nos tornar um grande polo cinematográfico mundial.