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TIKTOKIZAÇÃO E A PERIFERIA: DESAFIOS E DESIGUALDADES NA NOVA ERA DO AUDIOVISUAL



"A representatividade no setor audiovisual não é apenas uma questão de justiça social; é fundamental para a construção de uma sociedade mais inclusiva e democrática."




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A ascensão dos vídeos verticais trouxe profundas mudanças na produção de conteúdo audiovisual, iniciando uma era de consumo marcada pela rapidez, dinamismo e efemeridade. Essa "TikTokização" reflete as dinâmicas sociais e econômicas atuais. Este texto explora a situação dos profissionais do audiovisual vindos da periferia. Embora esse novo conceito de produção seja promovido como libertador, ele tem sido muito mais desafiador para nós, periféricos.

 

Profissionais deste mercado enfrentam uma demanda crescente para dominar todos os aspectos da produção de vídeo, desde a concepção até a edição final. As empresas, buscando reduzir custos e equipe, exigem que os profissionais sejam capazes de conceber, filmar, editar e publicar conteúdo de alta qualidade em um ritmo acelerado. Essa pressão exacerbada coloca, mais uma vez, os profissionais da periferia em desvantagem, já que frequentemente têm menos acesso a recursos, oportunidades educacionais e conexões na indústria. Mesmo quando possuem essas conexões, raramente são vistos como iguais, sendo relegados a papéis de apoio em um sistema de inclusão superficial. Essa desigualdade limita as oportunidades para os talentos periféricos e empobrece a diversidade de vozes no meio audiovisual, comprometendo a qualidade e a autenticidade do conteúdo produzido. Narrativas autênticas e complexas, especialmente as que emergem das comunidades periféricas, são frequentemente ignoradas em favor de estereótipos simplistas, marginalizando os criadores da periferia e perpetuando visões limitadas e preconceituosas dessas comunidades.

 

Essa exclusão não é apenas uma questão moral, mas também política. Ao limitar o acesso de profissionais da periferia ao mercado audiovisual, fomentamos desigualdades estruturais que minam a coesão social e a democracia. A representatividade no setor audiovisual não é apenas uma questão de justiça social; é fundamental para a construção de uma sociedade mais inclusiva e democrática.

 

Portanto, é um dever da indústria audiovisual adotar políticas inclusivas que promovam a diversidade e valorizem as narrativas autênticas e diversas. Isso inclui o financiamento de projetos liderados por profissionais da periferia, o estabelecimento de programas de mentoria e capacitação e a promoção de práticas de contratação mais equitativas. Nem vou entrar no assunto remuneração, pois isso demandaria um texto separado sobre os reflexos coloniais perpetuados em nosso sistema. Somente através dessas medidas podemos garantir que o setor audiovisual seja verdadeiramente representativo da riqueza e diversidade de nossa sociedade.

 

No TikTok, a estereotipação de conteúdos é muitas vezes sutil, mas poderosa. Uma das formas mais comuns é a simplificação e caricaturização das culturas e identidades de grupos minoritários. Por exemplo, certos estilos de dança, linguagem, moda e comportamentos são frequentemente associados a grupos raciais e socioeconômicos específicos e reproduzidos de forma superficial e exagerada por muitos criadores. Temos uma plataforma que prioriza conteúdos que geram mais interação e visualização, reforçando esses estereótipos ao promover vídeos que se encaixam em determinados padrões estéticos ou narrativos. Isso cria um ciclo onde conteúdos classistas e racistas são amplamente difundidos, enquanto vozes e perspectivas mais diversas são suprimidas ou ignoradas, criando um ambiente tóxico e preconceituoso.

 

Essas práticas contribuem para a perpetuação de sistemas racistas, classistas, misóginos, xenofóbicos e LGBTfóbicos, ao reduzir a diversidade e complexidade das experiências e identidades raciais a estereótipos simplificados e danosos a essas comunidades. Para combater isso, é crucial promover a educação, o diálogo e a conscientização sobre esses temas, bem como implementar políticas e práticas que valorizem e respeitem as vozes e perspectivas diversas na plataforma e fora dela.


 
 
 

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