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MONSTER - TÉCNICA SEM PERDER A VISCERALIDADE



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Quando você pergunta para um cinéfilo qual a melhor época do ano, a chance dele responder que é a temporada de premiações é quase uma certeza. Desde o final da temporada passada, tivemos grandes obras que encantaram espectadores e jures dos maiores festivais ao redor do mundo. Como de costume, vou trazer minhas resenhas sobre os longas mais impactantes que tivemos desde então.


Impossível não começar com o longa-metragem japonês: Monster, dirigido por: Hirokazu Koreeda. QUE PEDRADA!


Colecionando mais de dez prêmios pelos festivais por onde passou, sem sombra de dúvidas esse foi um dos que mais impressionou a crítica e os espectadores, em tantas camadas diferentes. A destreza de Hirokazu de elevar conflitos familiares para um lugar social é para além da linguagem cinematográfica como entretenimento, a forma com que se debruça sobre assuntos tão delicados é cirúrgica, algo único. Essa habilidade enternece em “Pais e Filhos”, 2013 e se confirma em 2018 com “Assunto de Família”.


                Em Monster, a história parte de uma mãe Saori (Sakura Ando) que suspeita da mudança de comportamento de se filho Minato (Soya Kurokawa) que ao indagá-lo acaba contando a ela sobre uma situação de agressão que viveu pelo professor interpretado por (Eita Nagayama). A premissa já traz um certo impacto e deixa a trama extremamente tensionada no primeiro e no segundo ato, num suspense/drama como poucos já produzidos, sem exagero.


O Yuji Sakamoto, quem assina o roteiro, traz a versão da historia em vários pontos de vista: da mãe, dos colegas de sala, do professor, da diretora da escola, menos do protagonista, Minato, tudo numa escolha muito bem escrita e executada que usa um incêndio como ponto de partida de todas essas perspectivas.


Os desdobramentos então, nos entregam com maestria, o subtexto da trama que traz uma critica ferina sobre a desumanização devido a burocracias sociais, a individualidade como escudo, homofobia, bulling, a falta de escuta afetiva e a vulnerabilidade de cada um desses personagens. No meio de tudo isso, temos o espectador o tempo todo tenta juntar as peças, julgando antecipadamente. A genialidade do filme é tão grande que acaba nos colocando como um dos personagens, como monstros também. Mas não ache que por abordar todos estes temas eles não são lidados com profundidade, cada um deles é exprimido impecavelmente.


Aí vem a “pedrada” que citei acima. Temos então a versão do próprio Minato e de seu amigo e colega de sala Eri, interpretado por Hinata Hiiragi, que atua como gente grande emocionando com sua delicadeza e potência, só no último ato, é revelado este olhar dos dois meninos, do mundo paralelo criado por ambos para lidar com as questões pessoais e familiares.


Algumas pessoas compararam Monster com o filme Close, de Lukas Dhont, lançado também em 2023, mas, para além do universo dos dois personagens principais, em ambos os filmes, Monster escolhe se comunicar pelos subtextos ao contrário de Close que tem a comunicação mais imagética. Apesar de haver sim uma semelhança entre os dois, Monster se mostra muito mais cruel, frio num lugar de crítica social enquanto Close deprime o espectador pela trama em si. (Close é incrivelmente belo, logo trago a resenha deste também).


Eu discorreria por páginas e páginas o quanto esse filme quebra paradigmas, desconstrói regras de montagens nos seus recortes e mesmo assim, cheio de técnicas de cinema, se mantém na visceralidade, nada pretensioso, não se perde em momento nenhum e sustenta a critica e a trama mantendo o espectador junto dos personagens o tempo todo.

 
 
 

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